top of page

Violência, sofrimento e sintoma no capitalismo contemporâneo (módulo I)
 

INFORMAÇÕES BÁSICAS:

  • Aulas 20,21, 27 e 28 de janeiro, 03 e 04 de fevereiro às 18h00 

  • 6 encontros. De 20 de janeiro até 4 de fevereiro 2022

  • Carga horária total: 12 horas.

  • Valor 235,00 



Ementa: O presente curso tem como objetivo introduzir elementos teóricos para pensarmos os atravessamentos entre violência, sofrimento e sintoma, junto de suas condicionantes políticas, econômicas e culturais. Parte do curso é resultado e desdobramento da pesquisa de mestrado em psicologia, realizada pelo professor Cian Barbosa no PPGPSI-UFF, entre 2017 e 2019, onde escreveu a dissertação “Esboço para um crítica à questão da violência: tópicos sobre neoliberalismo e subjetividade”. Trazendo fundamentos e reflexões críticas que se utilizam da filosofia, teoria social, psicanálise e outros campos, pretende-se apresentar uma abordagem interdisciplinar introdutória que dê conta de capacitar os alunos a refletirem sobre os problemas abordados a partir de suas próprias implicações com tais questões, vindas de diferentes áreas do conhecimento, seja para fins acadêmicos ou não. Entretanto, aposta-se num horizonte de reflexão e debate teórico que use de algumas das ferramentas produzidas por diferentes campos do saber, e que tenha como ponto de amarração central a questão das formas de produção e gestão de violência e sofrimento dentro da contemporaneidade.

Para tanto, passaremos por algumas etapas: primeiro, iremos contextualizar as dimensões específicas da modernidade, as violências que ela produz e a violência necessária para que fosse ela mesma produzida. Seus desdobramentos em diferentes aspectos da vida social, sua relação com a dinamização da produção pelo avanço tecnológico, também enquanto desdobramento da ciência moderna (partindo do cogito cartesiano como marco clássico), além da relação entre ciência e ideologia, especialmente no processo de produção da raça como instrumento de dominação social implicado em um novo regime de violência e formas de sofrimento (Fanon e Isildinha), intrínseco à colonização e seus processos de subdesenvolvimento/superexploração (W. Rodney). Em segundo momento, trataremos da dimensão específica que encontramos na dinâmica neoliberal e sua diferença, enquanto regime de subjetivações, do modelo clássico liberal.

Iremos investigar as características do neoliberalismo como regime de governamentalidade, que produz formas de subjetivações compreendidas por um modelo de sujeito-empresa, num mundo onde a lógica empresarial começa a operar em cada vez mais esferas, muito além do próprio mercado. Tal leitura será ancorada na exposição do livro A Nova Razão do Mundo (Dardot e Laval). A aula três se dedicará a expor os fundamentos da hipótese de homologia (Zizek) entre a análise da forma mercadoria (Marx) e a análise da forma do sonho (Freud), derivada da proposta de ler em Marx a “invenção do sintoma” (Lacan). Daí, poderemos também estruturar uma aproximação, através da noção de sintoma, à crítica da ideologia psiquiátrica, sua relação com as subjetivações neoliberais e a atualização da relação entre ciência e ideologia hoje, através de uma intersecção teórica entre clínica e crítica, ou seja, sobre as condições e determinações do sofrimento e suas manifestações.

Isso possibilita acesso aos instrumentos de interpretação do processo de crítica da psiquiatria, tal qual ocorrido durante o século XX. Para fazer isso, entretanto, é necessário atravessar questões epistemológicas, mesmo que de forma inicial, para diferir inclusive entre a posição crítica e a ignorância sobre a ciência (que acomete não apenas “negacionistas”, mas também muitos dos que supõem-se falar do lugar “cientificamente esclarecido”). Assim, a relação entre sofrimento, violência e ideologia será questionada também na intersecção entre saber e poder. Essa exposição será fundamental para a aula subsequente, onde se seguirá a reflexão sobre leituras desenvolvidas pela escola eslovena, tendo como referência um olhar introdutório sobre a obra de Slavoj Zizek, através de possíveis desdobramentos em sua teoria da violência em diálogo com outras questões de sua filosofia. Partindo disso, iremos também apresentar o diálogo teórico entre Zizek e Ranciere acerca dos modos de despolitização -- isso será importante para estabelecer uma relação entre violência e ideologia.

A última aula será ministrada pelo professor Rodrigo Gonsalves, e visa expor sua leitura da teoria da violência em Zizek, além de estabelecer diálogos com a interpretação da condição neoliberal e sua modulação subjetiva com outros autores, como Mark Fisher, Etienne Balibar e Walter Benjamin. Concluindo também com uma exposição de elementos do que vem sendo desenvolvido nas pesquisas do Latesfip (Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise - USP) sobre o neoliberalismo.

_________________________________________________________________________

Professor responsável: Cian Barbosa é bacharel em sociologia e mestre em psicologia (UFF), atualmente doutorando em filosofia (Unifesp). Membro do Centro de Formação e do Instituto Outros Estudos, além da revista Zero à Esquerda. Foi bolsista de iniciação científica na Fiocruz (história da saúde). Tradutor, professor e ensaísta. Pesquisa teoria social e teoria do sujeito entre política e psicanálise, violência e ideologia, também pesquisa filosofia da ciência e tecnologia.

Professor convidado: Rodrigo Gonsalves é psicanalista. Graduado em Filosofia e Psicologia. Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo. Mestre e Doutorando em Filosofia pela European Graduate School. Co-organizador dos Livros: Ensaios sobre mortos-vivos (2018), Ensaios sobre Vampiro e Zumbis: psicanálise, filosofia e arte (2021). Assina diversos capítulos de livro e artigos sobre novas linhas do marxismo e psicanálise lacaniana. Membro do Latesfip (USP), Membro do Centro de Formação, Membro do comitê editorial da CT&T: Continental Thought and Theory (Nova Zelândia) e Editor-Membro da Editora Lavra Palavra.

_________________________________________________________________________

AULA 1 (20/01): O que chamamos de violência, o que é violento? A produção moderna da violência, ou a produção violenta da modernidade. Violência colonial e a construção da raça: racismo e subjetividade (Frantz Fanon e Isildinha Baptista), Estado e estruturação da violência racial (Silvio de Almeida). Teoria da violência ou violência da teoria?

AULA 2 (21/01): Dardot e Laval: os modos de subjetivação neoliberais. Do sujeito liberal ao sujeito neoliberal. Os primórdios do projeto neoliberal. O fim da história como fim sem história. Quais os discursos que articulam o sujeito neoliberal? "Empreendo logo existo". A relação entre desempenho e gozo. Sofrimento e risco como condição.

AULA 3 (27/01): Marx, Freud e a invenção do sintoma. A noção sintomática de liberdade na economia política clássica. A forma mercadoria e a forma do sonho. Os modos de sofrer, suas condições sociais e culturais, e suas dimensões naturais. O nascimento da psicanálise e a crítica da clínica. Luto e melancolia no capitalismo contemporâneo: um exemplo de privatização dos modos de sofrer. A patologização do luto e seus tratamentos psiquiátricos.

AULA 4 (28/01): A ciência e os modos de sofrimento. Breve comentário sobre epistemologia e produção de conhecimento em saúde mental. A crítica da psiquiatria e da razão diagnóstica (Szasz). Ideologia e saúde mental. A digitalização do sofrimento e o sofrimento da digitalização. A biomoral da felicidade. Uma ética para além do sofrimento. Entidades clínicas por todas as partes!

AULA 5 (03/02): Violência subjetiva e objetiva (Zizek). O que é violência sistêmica e violência simbólica? A relação da violência com o Próximo. O gozo da violência e o gozo do Outro. Violência, neoliberalismo e ideologia. A violência divina (Benjamin). Modos de despolitização da política: arquipolítica, parapolítica, metapolítica (Rancière), pós-política e ultrapolítica (Zizek).

AULA 6 (04/02): A leitura zizekiana da violência através do RSI lacaniano. Modos de sofrimentos contemporâneos. Agressividade e Violência em psicanálise. Realismo Capitalista (Fisher). Subsunção total e a extração adicional de mais-valia (Balibar). Mal-estar, sofrimento e sintoma (Dunker). Benjamin e o impasse da violência e do capitalismo contemporâneo. Desenvolvimento das pesquisas do Latesfip sobre neoliberalismo.

 

 


_________________________________________________________________________

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ALMEIDA, S. L. Estado e direito: a construção da raça.

BADIOU, Alain. The rebirth of History. London: Verso Books.

BALIBAR, Étienne. 2019. Towards a new critique of political economy: from generalized surplus value to total subsumption.

BAPTISTA, Isildinha. Significações do corpo negro.

BARROS, Douglas R. Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica da metafísica racial. 2019. Hedra.

BENJAMIN, Walter. Crítica da Violência — Crítica do Poder.

COOPER, David. Psiquiatria e antipsiquiatria.

DARDOT & LAVAL. A Nova Razão do Mundo.

DUNKER, C. I; L. Mal estar, sofrimento e sintoma. ___________.

SAFATLE, SILVA JÚNIOR. Neoliberalismo. ___________.

SAFATLE, SILVA JÚNIOR. Patologias do Social.

FANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas.

_____________. Os Condenados da Terra.

_____________. Alienação e Liberdade: Escritos Psiquiátricos. FISHER, M. Realismo Capitalista. FREUD, Sigmund. Totem e Tabu.

______________. Luto e Melancolia.

LACAN, Jacques. Escritos.

MARX, Karl. O Capital, livro 1.

RANCIERE, Jacques. O Desentendimento.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, Patriarcado e Violência.

SOUZA, Neusa S. Tornar-se Negro.

SZASZ, Thomas. Ideologia e doença mental.

ZIZEK, Slavoj. Disparities.

___________. O Sujeito Incómodo.

___________. Violência.

___________. Como Marx inventou o sintoma? ZUPANCIC, Alenka. The Odd One In: on Comedy

bottom of page