Quem foi Freud?
Ementa: “Tarado, hetero-patriarcal, falsário, abusador, depravado, traficante de cocaína etc.,”, esses são alguns adjetivos encontrados no inconsciente sem superego da internet quando o assunto é Freud. O que é estarrecedor é que o ódio a Freud, e depois à psicanálise, é um sentimento compartilhado para além do espectro político. Progressistas, e até mesmo cientistas, que deveriam se armar contra a mentira e o ódio, não desfazem os laços perigosos que sufocam qualquer possibilidade de um debate sério acerca da emergência do psiquismo e das contribuições de Freud à psicologia, à neurociência contemporânea e à psicanálise. O presente curso, se insurgindo contra essa correnteza de misérias anti-intelectuais, busca desafiar o estabelecido mau senso.
Depois de quase 130 anos, recolocar a pergunta: “Quem foi Freud?”, é relembrar a trajetória de um esforço que, unindo um horizonte epistemológico fisicalista à experiência clínica de Charcot, em conjunto com a dinâmica neurológica de Jackson, tinha como preocupação compreender as condições de possibilidade para a organização psíquica dos sujeitos. Diga-se de passagem, Freud não via como antinômico o processo fisiológico em relação à dimensão fenomenológica da experiência individual. Assentado na cisão entre o físico e o simbólico, entre a mente e a psique, se viu obrigado a dialetizar sua construção epistêmica na lacuna existente entre ambos. Distante de um puro gesto de positivação analítica, da qual a experiência deve se encaixar no conceito, esse gesto de Freud se balizava justamente no contrário: a análise era fundada na observação, as hipóteses eram testadas de maneira empírica e se buscava o refinamento das conclusões delimitando o campo de atuação do exame. Freud se preocupava com a noção científica, não porque fosse um homem do século XIX, como muitos psicanalistas argumentam por aí, mas porque apostava de maneira radical na possibilidade de respostas para traumas psíquicos e na condição de verdade para a construção de um conhecimento efetivo que pudesse ser passado adiante.
E, sendo assim, à sombra do infeliz palpite contemporâneo, iremos retomar o caminho freudiano na construção da psicanálise como uma prática de intervenção clínica que busca desmistificar as causas dos traumas psíquicos que impactavam à vida de milhares de pessoas. Uma investigação debruçada numa das perguntas mais sérias sobre a condição humana: quais as condições de possibilidade para a emergência da subjetividade dos indivíduos? Uma práxis que, contrariamente ao que se afirma em redes sociais ou mesmo em livros sensacionalistas, está auxiliando hoje de maneira radical na superação dos becos sem saídas de uma neurologia refém do fisicalismo e da ciência da mente. O presente curso não é só para analistas, mas uma introdução para curiosos que, ao desconfiar do canto da internet, queiram entender um pouco mais quem foi este tal de Freud.
participantes:
Douglas Rodrigues Barros é psicanalista, participa do Fórum do Campo Lacaniano. É doutor em ética e filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Professor filiado ao Laboratório de experiências coloniais comparadas, ligado ao Instituto de História da Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor na pós-graduação em filosofia da Unifai. Participou do favela de psicanálise, é colunista na Revista Rosa e tem experiência em filosofia. Com ênfase em ética, estética e filosofia política. Investiga principalmente a filosofia alemã conjuntamente com o pensamento diaspórico de matriz africana e suas principais contribuições teóricas no campo da arte e da política. Atua nos seguintes temas: literatura, teatro, filosofia política, filosofia do direito e Estado. É escritor com três romances publicados e autor dos livros "Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafisica racial", "Hegel e o sentido do político" e "Antimanual de leitura: Guy Debord", entre outros.
Tales Ab'Saber Formado em Cinema pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, por onde é mestre em Artes. Psicológo pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, onde defendeu Doutorado sobre clínica psicanalítica contemporânea. É Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, e é Professor de Filosofia da Psicanálise no Curso de Filosofia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ensaísta interessado na imbricação de psicanálise e cultura, tem trabalhos publicados em revistas especializadas e também na grande imprensa. Em 2005 recebeu o Prêmio Jabuti na categoria "Melhor Livro de Psicologia, Psicanálise e Educação" com o livro "O Sonhar Restaurado - Formas do Sonhar em Bion, Winnicott e Freud" (Ed. 34). Em 2012 publicou "A Música do Tempo Infinito", sobre cultura tecno e subjetivação contemporânea (Cosac Naify), livro que também foi premiado com o Jabuti.
Aula 1 – APRESENTAÇÃO DE FREUD por Tales Ab’Saber
Aula 2 – FREUD, BREUER, OS HISTÉRICOS
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Uma investigação
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Sintomas de conversão
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A associação de psiquiatria e neurologia
Aula 3 – A INTERPRETAÇÃO DOS SONHOS
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O inconsciente
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A Bergasse 19
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Entre o fisicalismo e a linguagem
Aula 4 – TRÊS ENSAIOS SOBRE A TEORIA DA SEXUALIDADE
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Além da hereditariedade
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Uma revolução no entendimento do humano: a sexualidade
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Desejos e pulsões
Aula 5 – QUARTAS ANIMADAS
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A afirmação da psicanálise como horizonte
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Alunos, discípulos e inimigos
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Freud e a diarreia americana
Aula 6 – A SUSTENTAÇÃO CLINICA
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crítica e clínica
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A psicanálise como dissuasão de sintomas
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As contribuições contemporâneas da psicanálise freudiana
INFORMAÇÕES BÁSICAS
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07, 14, 21, 28 de outubro e 4 e 11 de novembro
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Aos sábados das 16h00 às 18h00
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Carga 12 horas
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6 encontros
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Certificação
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Curso síncrono e assíncrono
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Valor 290,00
*** Os cursos no centro de formação disponibilizam bolsas integrais a cada curso pago. Uma vaga vendida garante uma vaga totalmente gratuita.
*** A candidatura da bolsa integral para essa vaga deve ser feita pelo e-mail formacaocurso@outlook.com