
Encruzilhadas da identidade: raça, nação e “identitarismo” da modernidade ao colapso da modernização
Ministrado pelo Prof. Dr. Douglas Rodrigues Barros
Bio: Doutor em ética e filosofia política pela Universidade Federal de São Paulo. Tem experiência em filosofia. Com ênfase em ética, estética e filosofia política. Investiga principalmente a filosofia alemã conjuntamente com o pensamento diaspórico de matriz africana e suas principais contribuições teóricas no campo da arte e da política. Atua nos seguintes temas: literatura, teatro, filosofia política, filosofia do direito e Estado. É escritor com três romances publicados e autor dos livros Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafisica racial e Racismo.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3096579555934934
INFORMAÇÕES BÁSICAS:
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Aulas aos sábados – das 16h00 às 18h00
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5 encontros. Início em 26 de março de 2022
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Carga horária total: 12h.
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Valor 265,00
Contra-Ementa: A imagem que os convida para este curso não é apenas comovente e reivindicativa. Através dela torna-se possível assinalar a forte contradição com respeito à identidade. Na foto levantar os braços pode significar reportar-se a absolutização étnica da raça ariana – um delírio nacionalista que tem precedentes em Winckelmann, precursor do romantismo alemão. Pode significar fazer parte de uma comunidade imaginada e uma tradição inventada que dão, aquele e aquela que levanta os braços, a sensação de reconhecimento por seus pares. Pode significar ainda a segurança da identidade ao identificar-se com o grupo majoritário e, ao mesmo tempo, ter a sensação de que nesse grupo está contida a segurança necessária cabível ao indivíduo.
Por outro lado, o que faz aquele que cruza os braços? August Landmesser, um operário que se engajou com o movimento nazista, mas dele foi expulso porque se apaixonou e casou-se com uma judia. Uma judia que havia sido “identitarizada”, reduzida ao seu lugar racial, pela política nazista. De repente, Irma Eckler, a moça por quem August se apaixonou, viu que a identidade que acompanhou sua comunidade, sua família e a si própria, durante todo percurso de sua vida (aliás, como dizia George Steiner, “enquanto pudesse levar consigo as Escrituras... o judeu poderia preservar sua identidade”), de repente, ela viu que essa identidade foi absolutizada como algo radicalmente negativo pelo Outro alemão. Numa Alemanha que inclusive era tida por ela como seu lar e seu país.
Comecemos por aí simplesmente para afirmar mais uma vez: “o problema da identidade na modernidade não é novo!”, ainda que tenha se acelerado pelo menos desde a década de 1970. Nessa foto, pode ser resumida pelo menos duas formas de identidade; a cultural referenciada pela noção de racialidade (judeu, raça ariana) e a nacional (alemão contra os nômades judeus que “querem governar o mundo”). Por isso, se pode afirmar que a identidade é produzida socialmente, ela implica significação e sentido para o sujeito e nesse curso a abordaremos de três maneiras complementares: subjetiva, cultural e nacionalmente.
Mas, o que significa o gesto de Landmesser? Pode significar muitas coisas, inclusive um interesse próprio, individualista, despertado apenas pela irrealização do amor, já que se apaixonou por uma judia. Mas também pode implicar, ainda que inconscientemente, uma não resignação de pensar sua própria identidade como fechada, absoluta, desinfectada do outro. O amor implica uma partilha com o Outro que destitui predicativos e para tanto é preciso remover as fronteiras imaginariamente constituídas pela identidade cultural racializada. A identidade de Landmesser, portanto, está suspensa pelo gesto. Recusa o identitarismo nazista. Fonte gigante de implicação política, essa foto traduz algumas questões que teremos que lidar. E no curso faremos isso sustentando-nos em pensadores e pensadoras tais como Freud, Lacan, Neusa Santos, Fanon, Isildinha Nogueira, Paul Gilroy, Judith Butler, Achille Mbembe, Stuart Hall, Asad Haider, Badiou, entre outros. Nos importa pensar a identidade, suas saídas, e as limitações que são a ela impostas. Pensar na abertura para suas encruzilhadas e o porquê atualmente há a tentativa reforçada de controle das identidades insurgentes pelos aparatos de contra-insurgência atuais que as absolutizam e as absorvem numa lógica identitária.
1. A identidade subjetiva (26 de março)
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O mito do andrógino
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O sujeito
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O estádio do espelho de Lacan à Isildinha
2. A identidade cultural (2 de abril)
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A raça
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O indivíduo que não é sujeito
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A identidade, uma construção simbólica
3. A identidade nacional (9 de abril)
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Comunidades imaginadas
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A invenção do nacional
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Tradições excludentes
4. A modernização e seu ocaso (16 de abril)
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Problemas no paraíso da acumulação
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Crise da valorização do valor
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O colapso da modernização e a crise da identidade nacional
5. A produção de identidades não relacionais (23 de abril)
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Bem-vindo ao espetáculo da diversidade
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Produção e controle da identidade
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Identidade elevada à política
AS AULAS SERÃO MINISTRADAS ONLINE ATRAVÉS DO GOOGLEMEET E HAVERÁ CERTIFICADO