A psicanálise lacaniana então se coloca em uma confrontação direta com engessamento do saber restituindo uma outra noção de verdade: a verdade como algo que resiste ao fechamento ontoepistemológico. Obviamente, os dardos da contenda voam sobretudo em direção à filosofia, mas a concepção de ciência moderna também permanecerá no horizonte de tensão. Coisa central: Lacan nunca se esqueceu de pensar à ciência contemporânea. Talvez, e exatamente por isso, colocou desafios à consolidação epistemológica de todo saber clínico destituindo uma ideia engessada de correlação imediata entre verdade e saber inscrita na correlação entre coisa e conceito.

Como resultado abriu caminhos para pensar que se há uma ontologia, sobrevivente após o inconsciente estruturado como uma linguagem, essa só pode ser apreendida na sua negatividade. No primeiro módulo do seminário, Lacan e os filósofos, vimos essa questão sendo desenvolvida e envolvendo várias outras: a alienação constitutiva à subjetividade, a relação central entre as formas de apreensão do desejo, o mal estar na civilização como renúncia ao gozo que organiza o mais-de-gozar. E, nesse sentido, a filosofia se colocava como campo central.