
ENGELS, MARX E A DIALÉTICA DA NATUREZA
Natan Oliveira – Mestrando em Filosofia pela Universidade de Brasília (UnB), desenvolve pesquisa sobre a crítica hegeliana à obra de Newton na Ciência da Lógica. É bacharel em Física pela Universidade Federal Fluminense (UFF), onde integrou o Grupo de Física em Interações Fundamentais (GIFA-UFF). Participa do Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas sobre Marx e o Marxismo (NIEP-Marx/UFF) e do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ontologia Crítica (GEPOC/UFF), com investigações voltadas às obras de Marx, Engels, Hegel e Lukács — especialmente nos seguintes temas: dialética da natureza; relações entre marxismo, cientificidade e ciências naturais; e os vínculos conceituais entre Hegel e Marx. Seus interesses abrangem a história e a filosofia das ciências — com ênfase nas interpretações da mecânica quântica e nos fundamentos da relatividade —, além da relação entre marxismo, ciência e crítica do capitalismo. Dedica-se ainda ao estudo do conceito de tempo na física e na filosofia, com foco na concepção hegeliana e em suas releituras contemporâneas, em diálogo com formulações do tempo histórico em autores como Paulo Arantes, entre outros. Atuou como divulgador científico no Museu da Vida (Fiocruz) e como educador popular no Pré-Vestibular Social Dr. Luiz Gama (Coletivo Direito Popular/UFF). Atualmente é professor e coordenador no Centro de Formação, onde ministra cursos livres online. Colabora ocasionalmente com o podcast Ontocast, disponível nas principais plataformas digitais.
INSCRIÇÕES ABERTAS
INFORMAÇÕES BÁSICAS
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Aulas às quarta-feiras – entre as 19h e 21h30
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4 aulas síncronas via Zoom, de 16 de julho a 06 de agosto de 2025
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Carga horária total: 10h (com certificado ao final).
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Valor: 210,00
Ementa do Curso
O curso propõe uma introdução crítica ao debate sobre a dialética da natureza, explorando o diálogo entre filosofia e ciência a partir das obras de Engels e dos manuscritos pouco conhecidos de Marx sobre as ciências naturais e a matemática. Partindo do cenário científico do século XIX, investigaremos como Engels procurou reelaborar a dialética hegeliana em uma perspectiva materialista, enfrentando as limitações da filosofia da natureza e os resquícios metafísicos ainda presentes na prática científica. Analisaremos também o esforço de Marx para incorporar os avanços científicos à sua crítica ao capitalismo, ao mesmo tempo em que examina de forma crítica os próprios fundamentos das ciências. Ao final, articularemos essas reflexões com os impasses do presente — em especial a crise ecológica — a fim de repensar a dialética como um procedimento crítico das categorias científicas, capaz de renovar a compreensão da relação entre sociedade e natureza.
Na primeira aula, reconstruiremos o cenário das ciências naturais no século XIX, destacando os desenvolvimentos que moldaram o pensamento científico da época. A física avançou com o eletromagnetismo, a termodinâmica e a teoria cinética dos gases; a química consolidou-se com a formulação da tabela periódica, a lei da conservação da massa e os progressos na síntese orgânica; já a biologia, em processo de afirmação, deu origem à teoria celular, à microbiologia e à teoria da evolução. Esses avanços não apenas transformaram o conhecimento da natureza, mas também desafiaram as filosofias então vigentes — algumas ancoradas em tradições idealistas, outras orientadas por interpretações materialistas.
É nesse contexto que Engels, entusiasmado com os novos rumos da ciência e crítico das limitações da filosofia da natureza do século XIX, inicia seu projeto de uma Dialética da Natureza. Embora inacabado, esse projeto propõe uma leitura materialista e dialética do mundo natural, confrontando as concepções teológicas e metafísicas ainda presentes no debate científico. Nosso objetivo nesta aula será mapear esse terreno: identificar as influências filosóficas e científicas que moldaram o pensamento de Engels e compreender os traços gerais — ainda que de forma fragmentária — de uma filosofia da natureza distinta.
Na segunda aula, nos debruçaremos diretamente sobre os manuscritos de Engels da Dialética da Natureza para examinar três aspectos centrais de sua obra. Em primeiro lugar, analisaremos a presença da filosofia hegeliana como um 'espectro' que atravessa seus escritos, evidenciando como Engels busca reelaborar a dialética com outra base, a partir da crítica à sua formulação hegeliana. Em seguida, investigaremos o núcleo de seu projeto: a tentativa de fundamentar uma dialética da natureza que se oponha às concepções metafísicas, oferecendo uma chave interpretativa para os avanços científicos de seu tempo. Por fim, discutiremos as tensões internas da obra: a oscilação entre uma ontologia da natureza e uma epistemologia das ciências; e a crítica simultânea tanto às elaborações especulativas da filosofia da natureza quanto aos resquícios metafísicos presentes na prática científica. O objetivo é compreender os alcances e os limites dessa proposta inacabada, ressaltando os elementos que a transformaram num desafio aberto para o pensamento do século XX.
A terceira aula será dedicada a um aspecto menos explorado da obra de Marx: suas investigações sobre as ciências naturais e a matemática. Iniciaremos com o “duplo caráter” dessas investigações: por um lado, o esforço para incorporar os desenvolvimentos científicos à crítica da economia política (isto é, à crítica do capitalismo); por outro, um interesse filosófico mais amplo pelas formas de apreensão da natureza pelo pensamento humano. Na sequência, abordaremos os manuscritos matemáticos de Marx, onde ele elabora uma crítica à fundamentação do cálculo diferencial, ao argumentar que essa base ainda carregava traços místicos e metafísicos, em contraste com a racionalidade exigida pela prática científico-matemática. Trata-se de um esforço de Marx para estender sua crítica aos fundamentos teóricos de disciplinas consideradas rigorosas e centrais. Encerramos com uma reflexão sobre sua postura diante da ciência: um autor que via nela tanto uma aliada de sua crítica quanto um campo a ser permanentemente examinado. A ciência, para Marx, devia ser incorporada criticamente, sem renúncia à racionalidade emancipatória que ela mesma tornava possível.
Na última aula, reuniremos os fios condutores do curso para comparar as posições de Marx e Engels diante das ciências naturais e da questão da dialética. Buscaremos identificar tanto suas afinidades quanto suas divergências, de modo a compreender como cada um respondeu aos desafios colocados pelo saber científico de sua época. Na segunda parte da aula, proporemos uma reformulação da própria noção de dialética, concebendo-a como um procedimento crítico das categorias que estruturam as ciências da natureza. Trata-se de ultrapassar interpretações tradicionais — ora dogmáticas, ora reducionistas — e propor uma abordagem capaz de interrogar os fundamentos teóricos e as práticas científicas atuais. Encerramos articulando essas reflexões aos impasses do presente, em especial ao colapso ecológico em curso. A partir de Marx e Engels, buscaremos elementos para compreender a crise ecológica do capitalismo e, ao mesmo tempo, reconhecer os limites de suas análises frente à complexidade dos desafios atuais. O curso se conclui com a pergunta fundamental: como retomar, hoje, a crítica da relação entre sociedade e natureza, sem abandonar o legado “marx-engelsiano”?
Aula 1 – Gênese e estrutura da Dialética da Natureza: contexto e influências – 16/07
• O panorama das ciências naturais no século XIX
• As filosofias da natureza na Alemanha: entre o idealismo e o materialismo
• O projeto inacabado da Dialética da natureza de Engels e a apreciação de Marx
Aula 2 – Engels diante das ciências naturais: da crítica da metafísica à dialética da natureza – 23/07
• O espectro de Hegel e as concepções de dialética em Engels
• Em torno do materialismo e da dialética da natureza
• As múltiplas dimensões da Dialética da natureza: alcances e limites
Aula 3 – Um Marx ainda desconhecido: em torno das ciências naturais e da matemática – 30/07
• O duplo caráter das investigações de Marx sobre as ciências naturais
• Os manuscritos matemáticos de Marx: uma crítica da metafísica da matemática
• A dialética da natureza em debate: perspectivas a partir de Marx
Aula 4 – Dialética da natureza hoje: entre Marx, Engels e a crise ecológica – 06/08
• Afinidades e divergências entre Marx e Engels diante da dialética (da natureza)
• A propósito de uma crítica das ciências naturais: repensar a dialética
• Marx e Engels no Capitaloceno: contribuições e limites